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“Quem quer mudança no modelo de gestão não vota em Rui Costa”, diz Geddel

“Quem quer mudança no modelo de gestão não vota em Rui Costa”, diz Geddel.

O cacique peemedebista Geddel Vieira Lima abre a série de entrevistas do site Bocão News com os pré-candidatos ao Governo do Estado. O ex-ministro da Integração Nacional avaliou o cenário político para as próximas eleições e comentou as possibilidades para que o grupo oposicionista “marche unido” em 2014.

Para Geddel, a crise da segurança pública pode ser decisiva no resultado das próximas eleições. Comentou, ainda, sobre as chances de Rui Costa, provável candidato escolhido pelo PT à sucessão do governador Jaques Wagner. “A candidatura dele representa o continuísmo”, taxou o peemedebista. 

Confira todos os detalhes da entrevista concedida aos jornalistas Luiz Fernando Lima e Marivaldo Filho.
 
 
O que temos de concreto para 2014 no grupo da oposição? Já definiu o candidato?
 
A primeira decisão clara é que não há hipótese de termos duas candidaturas deste campo como aconteceu em 2014. Estamos evoluindo, apesar de alguns falarem que não tem vinculação, mas tem sim. Se o governo, para tentar reverter este quadro de pesquisas que ele tem, onde os nomes da oposição estão muito à frente do candidato que o governo vai tentar apresentar, buscar sufocar um pouco desta rebeldia interna que a base tem por ter de engolir goela abaixo este candidato que o governador está empurrando, anteciparem o nome, o anúncio do secretário da Casa Civil para o dia 30, evidentemente, vai se formatando um consenso que nós devemos apresentar o nome que nos representará.  Eu postulo, mas há também o nome do Paulo Souto e outros. A tese que devemos aceitar é que devemos consolidar um nome.

 
O senhor aceitaria não liderar a aliança?
 
Já declarei diversas vezes que eu não quero ser candidato a governador como obsessão de vida. Eu me sinto preparado para ser candidato, maduro do ponto de vista político e gerencial para enfrentar os desafios que temos pela frente diante de um cenário de Bahia que foi mal gerenciado nos últimos anos na Segurança Pública, na Saúde, Educação e nas Finanças. Evidentemente, que eu não poderia jamais colocar isso como uma razão de vida. Se outro nome unificar mais do que o meu é lógico que vamos sentar. O importante é oferecer aos cidadãos baianos um projeto alternativo ao que está aí. Não um projeto contra o PT ou contra o governador, mas um projeto diferente. A Bahia pode muito mais, pode ter resultados mais qualificados na gestão pública como outros estados estão tendo. Se o meu nome não for aquele que unifique aqueles que pensam assim é evidente que eu não poderei ter nenhum tipo de radicalismo. Eu trabalho para que seja o meu nome, mas se não for, com muita humildade vou apoiar aquele nos representará.
 
Qual o perfil que o próximo governador da Bahia precisa ter para avançar nos principais pontos do estado? Resolver a crise financeira, aperfeiçoar a Educação e Saúde? A base governista trabalha com duas teses e a escolha de uma delas, segundo eles, vai servir para definir o candidato?
 
Primeiro, vamos aproveitar para rasgar algumas fantasias: do lado de lá será um candidato de continuísmo, sobretudo, o candidato que vai ser anunciado. Os marqueteiros sempre vão procurar dizer que é a continuidade com mudanças, mas não é nada disso. O discurso é o mesmo. Do mesmo time, o apoio federal. Nós já sabemos o que vem de lá. Do lado de cá, eu tenho evidentemente, um perfil do que é o ideal. Mas é natural que eu pense em mim. Eu acho importante um governante que tenha atitude. O que seria isso? (para não ficar vago): eu não consigo entender como é que o comandante da Polícia Militar é assaltado e não se vê uma manifestação do governador. Porque a vida não é feita de palavras, é feita de posições e símbolos também. O simbolismo do comandante da PM ser assaltado é muito grave. Significa a falência da Segurança Pública.
 
Mas ele estava caminhando como centenas de pessoas?
 
Ele não tinha o direito de andar sem segurança. Não se pode ter o mesmo tratamento neste caso. Ele não é uma pessoa comum. Ele é o Estado na rua. O bandido sabe o papel dele no combate à criminalidade. Ele pode ser alvo de vingança, pode sofrer uma tentativa de desmoralizar a polícia. Portanto, ele não pode andar como um cidadão comum. Quando ele é assaltado, o simbolismo é que todos estão indefesos. Se o comandante foi assaltado imagine o cidadão. Isto é atitude na minha avaliação. Acho que é preciso um governante que não tenha medo de decidir. Precisa ter a noção de algumas noções do Estado. Planejamento na sociedade moderna é fundamental na administração da sua casa, da minha, imagina do Estado.



Onde o governo errou?

A Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia deixou de ter este papel. Nos sete anos de governo tiveram cinco ou seis secretários. Parece um palanque político. Tem uma superintendência de avaliação e controle que teria, entre outras, a responsabilidade de compatibilizar as expectativas de receita e despesa.  A Bahia de hoje tem o descasamento entre as receitas líquidas e as despesas brutas. Gasta mais do que arrecada. Desorganizaram as finanças do Estado. Se juntar o que tem de PPP (Parceria Público-Privada) comprometida de Couto Maia, Fonte Nova. A arrecadação não cresce na mesma proporção. Se considerar o Regime Especial de Direito Administrativo (Reda), que é um instrumento que sempre vai existir sempre, mas que foi super cacifado a ponto de se ter uma despesa de 300 e poucos milhões de reais percebe-se que não há Estado que aguente isso. O Reda entra para efeito do cálculo da Lei de Responsabilidade Fiscal e isto significa que não se pode fazer as negociações corretas com os professores, policiais, médicos, com quem é concursado. A previdência é um problema gravíssimo. Só até agosto foram consumidos mais de um bilhão de reais do Tesouro. O que inviabiliza nossa capacidade de investimento. É preciso ter um gestor focado mais na administração e menos na política. ACM Neto tem demonstrado um pouco isso de que é possíve, em pouco tempo, apresentar para a sociedade mudanças significativas. Não precisa ser autoritário, mas é preciso demonstrar autoridade para que as pessoas saibam que existe alguém cuidando do que é delas. Este é o perfil que imagino.

Os investimentos em Segurança Pública são anunciados pelo governo. Os policiais conseguiram os reajustes e avançaram na pauta. O líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Zé Neto falou em ganho real na casa dos 104% para os policiais. Por que não vai?

Primeiro, isto não é verdade. Se pegarmos as últimas semanas quando pessoas públicas viveram o mesmo drama do cidadão comum – Mário Kertész foi assaltado, um promotor também e o comandante da PM – o Ministério da Justiça torna pública, através da Secretaria Nacional da Segurança Pública, o chamado anuário da Segurança Pública. A situação da Bahia é dramática. Ela investiu menos que muitos estados nordestinos. Ao contrário do que dizem, investiu pouco em inteligência policial. A Bahia tem indicadores terríveis de mortalidade, se pegarmos hoje o estado com 40.1 de mortes por 100 mil é um dos piores do país. Nos dois últimos se matou mais aqui do que em quatro anos de guerra no Afeganistão. Os dados referentes aos últimos dez anos, em sete anos foram 30 mil mortes. Todos os indicadores são muito ruins. O governo não tem estabelecido metas para tornar o efetivo dentro daquilo que a ONU exige. Ele tem feito cobertura de abandono, aposentadoria e morte. Há um déficit brutal no número de policiais. Policial tem que ser prestigiado. Falta atitude. Quando o policial vai para o combate com o bandido, se o bandido tombar, o policial precisa ter a cobertura do Estado. Nem todo enfrentamento é possível ser resolvido de outra maneira.

Existem exemplos no país?

Olha, vou falar de Pernambuco apenas para comparar e demonstrar que existem políticas públicas que estão dando certo. Naquele estado houve uma redução de 40.5% dos indicadores de violência. O programa de Segurança Pública de Pernambuco foi premiado pela ONU. Salvador hoje está mais violenta que o Rio de Janeiro e a Baixado Fluminense. A questão da segurança é muito grave aqui. Eu diria que está fugindo do controle. Os números que o Estado coloca estão sendo desmentidos por dados do Ministério.

Quando se fala que Rui Costa teria sido escolhido já, o comentário é que para a oposição ele também seria o preferido. No projeto da oposição existe diferença entre os pré-candidatos do governo?

Acho que é muito arrogante falar do candidato adversário. Rui Costa, na minha avaliação já está escolhido e é o candidato do continuísmo. Ele representará o candidato de todos aqueles que querem continuar com este modelo de governo que está aí. Os que querem preservar algumas poucas coisas boas que estão – ninguém erra em tudo – mas desejam mudanças reais e profundas não vão votar nem em Rui, nem em nenhum outro candidato que promete dar a continuidade do que está aí. Para mim, não há diferenças. Todos tem seus méritos, defeitos, assim como eu tenho. Agora, o que representa a candidatura de Rui é o continuísmo do governo. No meu entendimento este governo prometeu de mais e realizou de menos nos últimos oito anos, sobretudo, se lembrarmos as promessas que fizeram ao afirmar a revolução que seria realizada na Bahia com a vitória dos aliados do presidente. O que a gente vê é uma Fiol que não termina, obras simples em Salvador que não andam. Feira de São Joaquim, Terminal Portuário e Ceasinha, uma simples passarela. O governo que deixou muito a desejar. Falta de planejamento e gestão. A Bahia não está num bom momento.



Geddel, como você pretende articular esta aliança com as oposições? Em 2010, houve desconforto. Prometeram palanque duplo e não aconteceu. O PMDB continua na base de Dilma Rousseff e ao que parece vai permanecer aliado ao PT no plano federal.

O palanque PMDB da Bahia será o palanque que facilite a união das oposições (ponto!). Temer (Michel) sabe disso. O PMDB nacional sabe disso. O partido quando não tem candidato nacional deixa com que os estados se sobreponham o projeto. Não é uma realidade apenas da Bahia. Está acontecendo em Pernambuco, Ceará, agora no Rio de Janeiro e pode, no momento que é lá em junho do ano que vem, fazer com que esta aliança com o PT no plano nacional não se renove. Como não sou homem de ficar em cima do muro, nem deixar de responder: o palanque do PMDB será aquele que facilite a unidade das oposições. Não está maduro ainda para anunciar, mas este é o conceito.

O senhor transita em Brasília há muitos anos. O senhor ocupou cargos estratégicos nos últimos anos. A pergunta é: o governo federal comete os mesmos erros do baiano?

Em alguns casos sim e em outros não. É um governo com mais atitude efetiva.

Tem mais dinheiro também...

Este negócio de mais dinheiro é muito relativo. O prefeito ACM Neto também não tem dinheiro e está mostrando uma atitude clara. Eu sou cidadão aqui em Salvador e já sinto a cidade me dando melhor autoestima. Um exemplo objetivo: o Fábio Mota (secretário do Ministério do Turismo) liberou recurso para fazer aquela avenida próxima ao estádio do Vitória, o Barradão (Manoel Barradas), já está próximo de devolver o dinheiro porque não consegue tirar do papel. Os recursos da Ceasinha e da Feira de São Joaquim há quanto tempo as obras estão rolando e rolando. Quando Neto foi eleito, eu procurei o Ministério do Turismo e disse: uma capital como Salvador está com autoestima lá em baixo e nós precisamos dar alguma condição para que o prefeito, no arriar das malas, tenha como mostrar serviço. Viabilizamos o empenho de 17 milhões de reais para a cidade, mas na hora de receber não podíamos porque Salvador estava no Cadin, como inadimplente. Liguei para o ex-governador Paulo Souto, que estava na equipe de transição, e optou-se por buscar uma liminar na Justiça para receber os recursos. Tornamos possível fazer o empenho. Isto tem 10 meses. Estes dias fui caminhar na Barra e a obra está a todo vapor e o primeiro trecho será entregue antes do Carnaval. Isto é planejamento, cobrança e atitude, ficar de perto, estabelecer metas. O governo federal falha, mas aqui, no governo baiano, a quantidade de erros é muito superior.

Saúde: o governo trouxe o “Mais Médicos”, disse que vai inaugurar cinco hospitais. Enfim, como é que você avalia a Saúde na Bahia?

Primeiro não vai inaugurar cinco hospitais. O governo da Bahia construiu dois e está de parabéns: o do Subúrbio e o da Criança, em Feira de Santana. O Hospital de Juazeiro estava quase pronto. O Santo Antônio de Jesus é uma desonestidade afirmar que foi feito por este governo. Durou 18 anos e foi feito a partir de emendas parlamentares, eu inclusive. Irecê a mesma coisa. Eu considero que a Saúde na Bahia vai muito mal. Sinônimo de postos de saúde sem médicos, sem remédios. Corredores dos hospitais públicos, o Clériston Andrade em Feira é um bom exemplo, lotados e servindo de enfermarias. A prevenção está muito ruim. Para se ter uma noção, o Ministério da Saúde divulgou que a Bahia é o penúltimo estado em cobertura vacinal. Foi o estado do Nordeste que menos cresceu no Programa da Saúde da Família (PSF). Tem jeito. O Paraná, por exemplo, criou os centros regionais. Locais onde se faz as consultas e o atendimento médico com muito mais rapidez. Os programas como o Saúde da Mulher. A mortalidade infantil caiu. A Bahia continua com um problema muito sério na área dos transplantes.


Ainda sobre a Saúde, muito se fala de que há um boicote dos fornecedores de medicamentos à secretaria estadual. A que se deve isso?

Não é boicote. Isto é grave. A desorganização financeira do Estado fez com que a Sesab esteja com um débito estimado em 150 milhões de reais. Reconhecido pela secretaria algo em torno dos 40 milhões de reais. Como é que pode ter saúde de qualidade, o “Mais Médicos” resolver, se você não tem medicamento? De todas as atividades empresariais, talvez a que mantenha uma relação mais próxima ao Estado pela sua natureza, é a dos empreiteiros. Quando você vê uma associação de empreiteiros de obras públicas publicar em jornais uma nota paga cobrando o pagamento. Empresários vão nos procurar. Alguns nos procuraram para dizer que estão com um projeto pronto da passarela de Pituaçu, que demorou quase três anos para fazer, que tem uma reforma para ser feita. Segundo eles, ela está sendo erodida, minada por baixo e se não for feita a reforma vai cair. Não se faz porque não pagam. Uma série de obras.

Educação: depois da greve do ano passado houve o entendimento entre professores e o governo e tudo volta a certa normalidade. Como o senhor analisa a política na Educação?

Se formos ver os números perceberemos que a depender dos níveis a Bahia ocupa 23º, 24º e até 26º lugar em qualidade na educação quando vai ao Ideb de cada seguimento fundamental, ensino médio. A Bahia continua sendo o estado brasileiro com o maior número de analfabetos, são mais de dois milhões. O grande programa educacional do governo é o Todos pela Alfabetização (Topa), que consiste em alfabetizar adultos. Os números foram todos desmoralizados agora, não por mim que discordo deste modelo, mas pelo IBGE. A propaganda do governo diz que foram alfabetizados pelo Topa mais de um milhão de pessoas. O IBGE vem e constata que foram 130 mil. 10% do que dizem que fizeram. Ainda assim, o projeto é importante, mas não é prioridade no que eu entendo para a Bahia. Prioritário é fazer várias parcerias com as prefeituras que são responsáveis por fazer isso, mas não têm condições, para fazer o programa das creches sair do papel. A educação formal de qualidade. Investir na manutenção, preservação e renovação da rede física. É investir em novas tecnologias. Estabelecer metas de aprendizados. Prêmios de produtividade. Para manter o professor estimulado através da meritocracia. Isso funcionou em Minas, que hoje é, quando vamos para o Ideb, a melhor educação pública do país.



O senhor avaliou negativamente a Saúde, a Educação e a Infraestrutura. Qual o ponto positivo da administração do governador Jaques Wagner?

A simpatia dele. É um sujeito que efetivamente é bom no trato pessoal. Destencionou as relações políticas. Vai para o interior e conversa bem com os prefeitos. A política na Bahia vinha com muito tensionamento. Agora, não vejo gerencialmente coisas que tenha como marca. Até o que é bom tem o “se não”. Por exemplo, a Via Expressa portuária. Obra bacana, vamos aplaudir, mas demorou cinco anos para tirar do papel. Tudo demora. Hospital da Chapada, em 2010 quando eu era candidato estive lá e já anunciavam que iriam fazer e até agora nada. São quatro anos. Tem sempre um desculpa, sempre um porém. Não tem nada disso. Falta é planejamento, tem que ter cobrança. Não há meta, não há punição para quem não cumpre as metas. Não há absolutamente nada. Tanto é assim que o secretário Cícero Monteiro, deixo claro que foi meu colega de Maristas e não tenho nada pessoal mesmo, disse que a Bahia é campeã em obras atrasadas. O governador não chama para si a responsabilidade. É um estilo.

Sobre estilo, o senhor carrega uma pecha, muitos atribuem e isto se reflete em algumas pesquisas, de ser arrogante. Como é que o senhor avalia isso?

Eu já ouvi isso sim. A gente tenta sempre fazer da crítica algo que não agrida e nos conduza a melhorar. Eu vivi um momento na Bahia, ainda muito jovem, de muito enfrentamento. O senador Antônio Carlos Magalhães tinha um jeito de exercer a política muito duro. Eu fiz este enfrentamento. Este me deixou cicatrizes no corpo inteiro. Você vai muito para briga. Ele atingia muito pessoalmente, na honra, apesar de ser uma figura que do ponto de vista administrativo trouxe muito para a Bahia, ajudou a Bahia. Isto é uma das razões que fez com que eu ficasse com a fama de brigão, de criador de problemas e isso acumula. A outra coisa que imagino: eu sou uma pessoa muito incisiva naquilo que digo. Vocês jornalistas fazem a pergunta e eu respondo, não fujo delas. Vou para cima. Eu não sei vaselinar. Eu me posiciono. Certo ou errado eu tomo decisões. Acho que a omissão é o pior dos males porque não enfrenta os problemas. Por causa destas características eu termino sendo confundido como arrogante ou duro. Quem me conhece sabe que não há absolutamente nada disso. Eu sou uma pessoa simples e tranquila. Agora, eu não posso fazer com que as pessoas tenham uma imagem diferente daquela que elas têm a meu respeito. O que eu procuro é suavizar, aprender, alterar rumos e entender que, às vezes, a forma como me vejo não é a mesma que as pessoas e como homem público tenho, sem mudar a essência do meu pensamento, chegar mais próximo das pessoas. Na minha cabeça estou próximo. Eu caminho sozinho, faço meus exercícios. Vou para o shopping de bermuda com meus filhos. Sou absolutamente comum, normal. Eu concordo com você que existe isto, eu sinto isso às vezes e tento me esforçar para as pessoas não me vejam assim.

O senhor trabalharia para mudar esta imagem?

Tenho pesquisas que mostram que não são todas as pessoas que me veem assim. Sobre parte do seguimento que acompanhou este enfrentamento, é meu dever mudar. Eu só não gosto de ouvir opinião quando ela não é substantiva. Eu não tenho o direito de lhe adjetivar. Não dá para ficar com adjetivação apenas. Faço o esforço para mostrar o que sou. Eu sou o que sou, com meus erros, acertos, defeitos e eventuais qualidades. Me considero transparente no que digo. Você nunca vai me ver zangado fingindo que não estou. Você saberá no momento que estou retado e no momento que estou feliz. Eu digo “pá” (gesticula).

O PMDB permanece como um partido sem encabeçar a chapa majoritária para presidir o país. É um partido heterogêneo que se mantém de certo modo no poder. A falta de um projeto nacional prejudica?

Todos os partidos brasileiros têm heterogeneidade, mas quando você tem um projeto nacional, um candidato  nacional, estes diferentes se juntam em torno do projeto. Como o PMDB não tem, os estados passam a ter uma influência maior e acaba dispersando. Isso é ruim. Eu tenho sido voz vencida nesta questão. Acho que o partido político que quer se firmar como representante de ideia tem que disputar a eleição. Perder ou ganhar, como na vida, é do jogo. Agora, se você não disputa você não faz torcida. Eu me sentiria muito mais à vontade se tivéssemos um candidato. Poderíamos partir para o debate de ideias, enfretamento, embate de propostas e oferecer à sociedade as alternativas. Eu lamento profundamente, sou voz isolada.

Dentro disso, tem uma coisa que a gente ouve. O PMDB sempre se mantém no governo. Tem um grupo da base e outro fora. Independente do resultado, o PMDB estará no governo.

Eu fui voz vencida. Eu sempre defendi. Se for ver a história da minha vida, sempre foi assim. Eu nunca aderi ao governo, saí de governo. Não tem fisiologismo. Não fico pendurado em cargos. Ás vezes dizem que eu estou na Caixa, mas estou lá pelo o que fiz em 2010. Não fui por favor. Eu apoiei Dilma/Temer, inclusive no segundo turno quando poderia não apoiar. Me mantive. Meu partido me indicou. Quando lá atrás, antes de 2010, dissemos que não dava mais – porque estas coisas que estou dizendo aqui dizia a Wagner também – o governo não estava dando. Eu entreguei um documento, não se pode esquecer disso. Nós saímos do governo. Não tenho apreço por cargo e não estou no governo para ser governo. Quem ganha o governo, governa. E quem perde tem que fazer oposição. Fico triste quando o meu partido, por vontade da maioria, não faz assim. Eu tinha duas alternativas: sair do PMDB ou ficar lutando internamente. Não sai e continuo lutando dentro do partido. Nunca tive outro partido na minha vida. Não gosto desta história de ficar saltitando de um para outro. Prefiro pagar o preço.

O governo promete entregar um volume considerado de obras no próximo ano. O senhor diz que ficou devendo em todos os setores. Traz como exemplo a administração de ACM Neto que vem mudando Salvador. Geddel, você acredita que Wagner pode entregar o Estado como João Henrique entregou a prefeitura?

Eu acho que pode sim. Primeiro, que não vejo tantas obras assim. Algumas do governo federal, os dois viadutos do Imbuí, o Porto, a Feira. Isso tudo já está contabilizado. A população vai dizer: agora! Depois de oito anos. Este negócio da ponte (Salvador-Itaparica) que acho desrespeitoso falar de uma obra de 7 bilhões de reais. Fundamentalmente, eu não vejo como eles arrumarem, neste ritmo que vai, as contas públicas. Falta coragem. Eles não têm coragem de extinguir secretarias. O governo da Bahia tem 31 secretarias. Exemplo,  que elas não são tão responsáveis: existia na Bahia uma secretaria de assuntos internacionais. O secretário era Fernando Schimdt. Quando o governo anunciou o contingenciamento poderia ter extinguido naquele momento, mas não fez. No entanto, quando Schimdt vai para a presidência do Bahia e o conselho aprova o salário, considero digno e acredito que deve ter mesmo o salário lá, o governo acaba a secretaria. 

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